DIGITE AQUI A LEITURA QUE PRETENDE PESQUISAR

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

PRIMEIRA MANHÃ - Dalcídio Jurandir

A obra de Dalcídio Jurandir, esse escritor quase desconhecido do grande público,
compõe-se de onze romances, entre os quais dez são de ambientação amazônica. Desses dez romances, que formam a chamada “Saga do Extremo Norte”, o personagem Alfredo é uma espécie de fio condutor, com seu percurso inquieto pela cidade e pelo interior do Pará, desvelando, especialmente, o complexo espaço urbano de Belém, além de participar ou acompanhar os dramas de vários outros personagens que cruzam seu caminho.




CARACTERÍSTICAS DE DALCÍDIO JURANDIR EM “PRIMEIRA MANHÔ

1-    Romance enquadrado na terceira geração modernista;
2-    Sintetiza a terra e o homem da Amazônia, universaliza a cultura amazônica;
3-    Mostra o falar regional, caboclo;
4-    Dá relevância às crendices do povo amazônico (simpatias, benzedeiras, festas, folclore, causos etc.);
5-    Abusa de rememorações e digressões (desvio de rumo ou de assunto, evasiva);
6-    Utiliza recursos poéticos na sua prosa (rimas, aliterações, metáforas, antíteses, pleonasmos etc.):
Ex.: Pensar que pediu perdão? (aliteração)
            O Coronel a língua engoliu (hipérbato)
7-    Seus personagens crescem na narrativa em densidade psicológica;
8-    Dificulta ao leitor o acompanhamento do foco narrativo, pois passa da voz de um narrador externo para a voz interna da personagem, originando daí a quebra na temporalidade e no espaço da narrativa;
9-    Apropria-se da tradição literária amazônica, usando o texto Voluntário;
10- O enredo deve localizar-se entre 1926, aproximadamente;
11- Mostra diversas temáticas: a descoberta da sexualidade, a adversa realidade escolar (sala de aula como aprisionamento de pessoas, como peixes em “aquário de gelo”), a vida de aparências, a infidelidade amorosa etc.;
12- Enredo quase todo desprovido de ação (as personagens mais pensam que agem);
13- Romance-rito, rito de passagem, romance-grito dos excluídos;


ROMANCE “PRIMEIRA MANHÔ
(DALCÍDIO JURANDIR)
Mais um livro do Ciclo do Extremo Norte, traz de volta Alfredo, agora no ginásio. Tal como Belém do Grão-Pará, tem como pano de fundo uma Belém decadente e nostálgica dos tempos Belle èpoque. O amadurecimento de Alfredo, a percepção das injustiças e contradições sociais, o choque com a realidade educacional, muito distante daquela que sonhava ainda garoto em Cachoeira, as culpas que carrega se misturam à crônica da família Boaventura. Alfredo, o personagem central vive a sua primeira manhã de Ginásio (quinta série), esperada, tão cobiçada, com acontecimentos e impressões que lhe ferem profundamente a adolescência. Alfredo se encontra com novos personagens, mora noutra casa e com outra gente, cujos problemas agravam os do estudante sempre inquieto e ávido de aprender o mundo. Numa sucessão de quadros e cenas, o romancista nos apresenta a d. Santa (velha parteira) e suas netas, a D. Dudu, a D. Brasiliana (moura do contrabando e íntima da Alfândega e Foro), os Boaventuras, dos quais se destaca Luciana. A caminhada de Alfredo em companhia de duas senhoras numa noite pelo subúrbio, a conversação entre Alfredo e Ludica – um longo diálogo de adolescentes – o encontro com os professores no Ginásio, completam este volume.

__________________________________________________________________________________ 



O rapaz Alfredo tem dezesseis anos,morador da José Pio, no bairro do Telégrafo.Foi abrigado na casa em que o coronel Braulino Boaventura construiu em Belém.O coronel é morador de Cachoeira,no Marajó,proprietário da fazenda Camamono e Intendente daquele municíipio.Marido da cruel Jovita e pai da invejosa Graziela e da moça que deu o “mau passo” Luciana. São responsáveis pela casa em Belém,a dona Santa,mulher pobre,parteira de profisssão,irmã do coronel.Dona Dudu,costureira e filha de dona Santa e sobrinha do coronel Braulino.Alfredo é filho da negra dona Amélia,que tem uma queda pelo álccol e do pai letrado e branco major Alberto,que auxilia o coronel na administração da Intendência em Cachoeira.
O livro narra o primeiro dia de aula de Alfredo no ginasial.O fim da narrativa mostra Alfredo três dias depois voltando a escola e finda com ele ao término da aula,questionando que seria essa aula de hoje, a primeira aula de fato? E não a do primeiro dia. Não contaria o desastre do primeiro dia, a primeira manhã no Liceu? Já na rua interroga a si mesmo, voltaria para a José Pio para contar a primeira aula de “vera”,isto é, de verdade,ou “Sigo sem rumo ou vou na Ponte do Galo?” .
Voltamos ao início da narrativa. Assim começa o romance Primeira Manhã. Alfredo segue para sua primeira manhã no colégio.Vai a pé pela São João,cruza o Igarapé das Almas,Igreja de Santana,espia a missa,dobra-se perante a imagem do santo porteiro,o São Pedro,porém não beija o pé da imagem,pede ao santo que lhe abra as portas do colégio e da vida em Belém.Dobra na São Mateus e chega ao Largo do Quartel.Está atrasado,os alunos já entraram.No caminho pensava na história que nos oito dias em que ficou em casa sem ir a escola,pois não tinha uniforme e nem material,ouvira a narrativa pela voz da parteira dona Santa. Ela contou a triste sina da sobrinha Luciana,filha do coronel Braulino,que fora pedida em casamento pelo pastor Severino,lá em cachoeira. A mãe dona Jovita negou o pedido. O homem ficou revoltado e deu para rasgar páginas da Bíblia pelas águas da região.Luciana tinha o sonho de estudar o ginasial em Belém.No entanto sua mãe lhe pegou em pleno”mau passo”. Jovita lhe aplicou uma violenta surra,com direito a banho de sal no final. Ficou presa no cômodo das selas dos cavalos.Um raio matou dezesseis porcos e danificou parte do quarto-prisão.Ela fugiu. Dona Santa trouxe para Belém a desabençoada,porém a moça desapareceu sem deixar rastro.
No caminho para o colégio Alfredo pensa na jovem Luciana,na casa da José Pio que fora construída para a jovem estudar em Belém,”porém o mau passo”, a fez ser renegada pela família.
 Atrasado no horário, atrasado oito dias do início das aulas e atrasado na série,pois tinha dezesseis anos e iniciaria no primeiro ano ginasial,o correspondente a quinta série atual. Entra na sala e vai para o fundo da sala.Aula de química.Ele começa a pensar em muitas coisas(digressões), pouco no estudo ministrado. No final da aula é cercado pelos alunos da terceira série e na sequência foi expulso da sala e entregue a inspetora que lhe chamou atenção,pelo erro, pois assistira aula na turma do terceiro ano.
Já na turma do primeiro ano, Alfredo era bem maior que o restante dos alunos. Toca a campa, desce para o pátio pensando em fazer as tão imaginadas novas amizades.No entanto, recebeu o trote por ser calouro. Foge para fora do colégio.Sujo,rasgado e humilhado.O dinheiro do bonde que a pobre dona Santa lhe deu ,foi roubado. De volta para José Pio, mergulha em um diversificado fluxo de memória,enquanto caminhava,lembra dos quinze anos,sem dinheiro em pleno aniversário, lembra do Professor Benício, o professor moquém, do tio Sebastião envolvido com os revoltosos do Guamá, da doença de sua mãe dona Amélia,Andreza,Eunice e a primeira carta de amor de Alfredo que foi rasgada,Lúdica e o quase alguma coisa...
Já em casa, na José Pio, Dona Dudu costura a roupa de Alfredo,depois lavou o uniforme do menino.Ela lembra da prima Graziela,irmã de Luciana que não deixou o pai vender a casa da José Pio. A praga que Luciana jogou na sua irmã, a moça amanheceu finada.Quando Luciana deu o mau passo,sua mãe lhe queria marcar com o ferro do gado, o pai,o coronel que não deixou.Dona Dudu é filha da parteira,prima de Luciana e de Graziela.Dona Dudu também fala das órfãos que avô a parteira d.Santa trata com regalias.Alfredo pensou em abandonar o almoço que não lhe agradara,porém d.Dudu apareceu com a roupa e a farda limpa. Duas mulheres o chamam próximo ao matagal.São duas senhoras, ambas são primas, moradoras da José Pio. Elas pedem a companhia de Alfredo,pois principia a noite e desejavam encontrar os seus maridos.No entano durante grande parte do percurso o jovem desconhece o motivo daquela caminhada. Dona Abgail e falante,já a prima Ivaína é calada.Abgail lembra que a sua família já fora proprietária daquele terreno em que Alfredo estava morando.O seu avô era o rei das tripas. Viviam bem.Festas e comida farta com o dinheiro das vísceras. O avô tinha sentimentos de possível filha, ou desejo sexual pela empregada Deolinda. Os três vão atravessando os matagais, tudo escuro. Alfredo fica curioso para saber objetivo daquela caminhada. No entanto parece descobrir novas sensações, admirando o colo da desconfiada dona Ivaína e os braços de dona Abgail,a descoberta de novas sensações,sexualidade em nova etapa da vida,adolescência. Bairro da Pedreira, do Acampamento,promessa na igreja, terreiro do pai Raimundo e de repente as duas seguem pelo mato sem ao menos agradecer ao jovem Alfredo,por tão longa caminhada. Abgail atrás do marido Fernando e Ivaína atrás do touro, o marido que a estrupou na noite de núpcias. Ao usar a chave para abrir a porta,lembrou que a chave fora feita para Luciana. Depois do coronel que tinha a questão de terras para ser resolvida.Braziliana era uma mulata de um metro e oitenta,rodada,arisca na arte de envolver os homens. Mulher queaprontou muito na vida,que já fora amante do ex-governador,compadre do coronel Braulino. O coronel não lhe tinha em boa estima,porém ficou balançado quando ela ofereceu o número do telefone da taberna do seu Antonico,local que estava abrigada,mais precisamente em uma estreita porta lateral do estabelecimento comercial. Braziliana também criticou o poder das famílias dos Lobos,que segundo documentos, herdara da época das sesmarias,grande parte da cidade de Belém.
Alfredo a pedido do coronel vai a taberna do seu Antonico telefonar para o advogado doutor Gurgel.Braziliana diz ao Alfredo que estava mais do que na hora do coronel ficar viúvo.Desejava ser dona das cabeças de bois do coronel.Acabaria com a farra do advogado Gurgel que arrasta o caso das demarcações da terra contra os Texeiras,somente para sangrar o bolso do coronel.No entanto admirava o doutor por ter tirado sua esposa do cabaré Cristal,assim com coragem desfila pelos salões da sociedade com a dama,que já fora prostituta. O coronel diz a sua irmã, a velha parteira Santa,que está na hora de arrumar ocupação para as netas que já saíram do orfanato.Dona Dudu lembra que a mãe foi rigorosa na criação das filhas,sendo bastante diferente na criação das netas. Alfredo percebe o coronel com uma “teteia” na João Alfredo. As netas aparecem em casa.Ana foge para o rumo da rua,Alfredo vai buscá-la e a entrega a avó.Ela pega o vestido rosa e foge novamente.Dalila pede dinheiro a avó para comprar sabonete.Braziliana com chapeu e leque vai ao fisco,tentar remover as multas do desonesto Antonico.
Depois de três dias Alfredo regressa ao colégio.Assiste todas as aulas do dia.Matemática,Latim,Francês,Geografia.
Personagens
Alfredo- Rapaz de dezesseis anos,nosso protagonista.O enredo desenvolve-se a partir da narração,principalmente, do seu primeiro dia no novo colégio.O retorno ao colégio três dias depois. Era ginasiano,primeiro ano.Seu fluxo de memória é intenso.Lembra de Cachoeira e Moaná,seus pobres amigos que lá ficaram,que não teriam acesso a educação ginasial. As meninas quase namoradas ,que ficou para trás nessas duas cidades. Ficara muito impressionado com a história da jovem Luciana.A descoberta de um novo nível de sexualidade a partir das vizinhas senhoras Abgail e Ivaína.Tinha dúvidas e as vezes sentia-se inferiorizado no colégio, aquilo seria realmente para ele?
Coronel Braulino Amanajás Boaventura – Coronel era dono da fazenda Comonono,casado com a cruel Jovita. Pai de Luciana e Graziela.Tinha uma questão de terra no fórum de Belém que já durava anos,contra a família Teixeira. Era intendente de Cachoeira,porém era bronco,tosco para o trabalho administrativo e deixava essa parte para o major Alberto,que trabalhava no chalé de Cachoeira. O coronel apesar de pacato e de ter um vocabulário original ”delabeçõe” era “camuflado” mulherengo. Construíra a casa da José Pio para a filha mais nova,que era a preferida,o sonho da menina era fazer o ginásio em Belém.
Luciana - A jovem filha do coronel Braulino e da Jovita,dera “um mau passo” por isso foi severamente espancanda pela mãe. Sangrou e recebeu um banho de sal . Ficou presa nua no quarto-prisão,quando um raio caiu e matou de 16 porcos e quebrou parte do quarto-prisão. Ela fugiu.Depois a tia Santa,a parteira,irmã do coronel a trouxe para Belém.Ela fugiu e desapareceu. Ela desejava casar com o pastor Severino e sua mãe a impediu. O seu grande sonho era estudar o ginasial em Belém.
Andreza – Amiga de Alfredo que morava em Cachoeira,aparece apenas no plano da memória do rapaz. Ele lembrou do quase beijo que quando eram crianças quase aconteceu.
Dona Santa- Parteira,irmã do coronel Braulino. Foi a senhora que narrou o drama da jovem Luciana para o adolescente Alfredo. D. Santa tinha simpatia pela menina Luciana. Não gostava da cunhada Jovita e nem da sobrinha Graziela. Era mãe da costureita Dudu. Tratava com desvelo as netas órfas Ana e Dalila.O que irritava a filha Dudu.
Dona Dudu – Costureira, filha da parteira d.Santa,sobrinha do coronel Braulino.Era uma pessoa amarga,gostava das desgraças na famíla do coronel.Detestava Luciana,pois afirmava que a prima desaperecida jogou um praga na sua irmã e a irmã amanheceu morta.
Graziela – Irmã de Luciana,segundo d.Santa era invejosa,tinha inveja de Luciana. Queria aprender vários instrumentos, mais faltava talento, não era inteligente.
Abigail – Uma vizinha da José Pio. Mulher muito falante,junto com a prima Ivaína convidaram Alfredo para fazer a companhia a dupla,enquanto elas procuravam seus maridos.Seu avô foi o rei das vísceras no pasado. O terreno em que o coronel construiu a casa da José Pio,foi de sua família,os Juruemos. Procurava o marido Fernando, que estava provavelmente aprontado em algum cabaré. Alfredo fica interessado em seus braços.( sensualidade metonímica)
Ivaína – A prima de Abgail,calada,séria, o povo falava na José Pio, que o seu marido lhe estuprara na noite de núpcias e ainda a ferida não sarara. Alfredo ficara interessado em seu colo .( sensualidade metonímica)
Braziliana – Mulata de um metro e oitenta,já tinha sido mulher da vida, foi amante do ex-governador, o amigo do coronel. Era contrabandista e conhecia todo mundo no fórum e na alfândega.Morava no anexo da taberna do seu Antonico. Torcia para o coronel ficar viúvo, para ser a dona dos bois do coronel.
Antonico – comerciante desonesto,que roubava no peso e no preço.
Ana e Dalila – As órfas que viveram no orfanato. Agora viviam batendo pernas e aprontado pelas ruas. A avó dona Santa não enxergava a realidade,idealizava as netas. Para a revolta de dona Dudu.
Jovita – Cabocla do marajó,esposa do coronel,” A Jovita? Uma tapuia dura, feita de pau piquiá, aquele seu rosto amarrado, uma soberbia que carrega. Que se dissesse: é branca, nem é, (...)Mas, sim... Minha cunhada? Mansa na parecença, danada no seu oculto. Aquela? Analfabeta como eu, mas governando a casa como quem sabe ler, sem altear a voz, sem se mexer no assento. Da feita que a pessoa, perante ela, praticou uma falta, assim-assim que seja, pode contar, perdão não espere. É crua, soturna, enroscada. Não espere graça. Por outra parte, a filha atrás não fica. Nos olhos.” Ela surrou a filha Luciana,sem piedade,queria marcar a menina com o ferro quente de marcar o gado.
Dona Amélia - A negra dona Amélia, mãe de Alfredo que sempre sonhou vê o filho Alfredo doutor. Fazia esforço para manter o filho estudando na capital. Não era casada com o branco major Alberto, o pai de Alfredo.
Major Alberto – Pai de Alfredo,era advogado,porém pouco advogava,quando o fazia, geralmente não cobrava honorários. Morava no chalé em Cachoeira. O coronel era o indendente,porém quem resolvia tudo na intendência era o major Alberto.Era culto e tinha biblioteca em sua casa.
Celeste – Parente de d.Amélia,que falou para dona Dudu,que dona Amélia ficara lhe devendo da época em que Alfredo morou em sua casa, algum tempo atrás.Fato ocorrido no livro anterior,”Passagem dos Inocentes”
Severino- Pastor Severino que pediu em casamento Luciana,diante da negativa de dona Jovita,teria ficado louco,rasgando páginas da Bíblia.Jogou uma praga na família do coronel.
Professor Benício – Aparece no campo da memória,quando Alfredo tinha quinze anos, o procurou para ter aulas para o exame de admissão. Veterano com quarenta anos de magistério.Falou para Alfredo que letras e números são apenas letras e números. O difícil era a ciência do conhecimento feminino.
Doutor Gurgel – Advogado que a anos defendia o coronel na causa da disputa de terra,contra a família Teixeira. Segundo Brasiliana,doutor Gurgel sangrava o bolso do coronel, com essa causa interminável. Também segundo Brasiliana,a esposa do doutor era uma dama que frequentava os salões da sociedade,porém fora retirada da casa Cristal, ambiente de prostituição.
Algumas observações
1. A obra enquadra-se na Segunda Geração Modernista,geração regionalista,ou neorrealista. Personagem no cotidiano, sem idealizações
2. Alfredo representa o alter-ego do autor Dalcídio Jurandir. Realidade e ficção em cada frase,pelas ruas de Belém e nas memórias do Marajó.
3. Uma Belém da periferia,Telégrafo,Pedreira,,Acampamento que vai ao centro, o Liceu
4. O personagem Alfredo vive em um mundo cercado de mulheres,porém limitadas pela pobreza,ausência,ou baixa escolaridade,mulheres em torno,ou em busca de seus homens.
5. Parece que o professor Benício ao falar que números e letras ,são apenas números e letras e que a grande ciência da vida,estaria no mistério de entender as mulheres.Tenta apontar um caminho entre a vida prática, real e a vida acadêmica,distante baseada em uma cultura europeia.
Temática: Os primeiros dias do jovem Alfredo no colegial,descobertas e frustrações em um verdadeiro ritual de passagem do menino para o rapaz
Espaço: Ruas e bairros principais de Belém o Liceu e a casa da José Pio. No campo da memória Cachoeira e Muaná no Marajó
Tempo: cronológico,pois são os quatro primeiros dias do ginasiano
Enredo Linear: O enredo é linear,apesar de um intenso flash-backs,o rommance é lento,pois temos pouca ação e muita digressão.
Pontos Importantes
· A escola aparece como um local que não fora feito para ele.Sentia-se meio intruso, o menino pobre descedentes dos negros da areinha, da tão distante Cachoeira e tão presente Cachoeira em seu fluxo de memória. O menino da cor da água barrenta,em contraste com o confiante e abusado loiro do quinto ano.
· Alfredo sente-se representante de todos os seus colegas de Cachoeira,meninas e meninos que não teriam a chance de frequentar o ginásio.Nessa dualidade entre o orgulho de representar os humildes amigos do seu munícipio e a hostil recepção dos alunos ao ginasiano do primeiro ano
· Professores autoritários ministrando um conhecimento livresco,sem qualquer ponto de contato com esse menino amazônico. O professor de Geografia falava dos afluentes dos rios da Europa...
· A covardia denominada de trote,pois por falta do uniforme faltou os primeiros oito dias de aula. Foi esculachado no pátio e correu para frente do colégio,sendo perseguido pelos alunos” Todo o Ginásio sabendo que um tamanho caverna do primeiro ano, o calouro da roça, covardemente fugiu do trote devido.”
· Luciana a desabençoada,que deu mau passo,que levou uma surra de sua mãe, a insensível dona Jovita,que lhe deu tamanha surra e lhe deixou presa, nua em pelo, no quarto que guardava as selas dos cavalos.
· Luciana fora salva pelo raio,que matou dezesseis porcos e danificou sua prisão.Ela fugira. Tornou-se a renegada,mesmo sendo a filha caçula,outrora já tinha sido a preferida do coronel.
· A residência da José Pio em Belém, que fora construída para a moçinha e ela nunca conheceu. Agora o sensível e pensativo Alfredo estava no lugar da dasabençoada Luciana. Na casa que deveria ser da estudante Luciana.Sentia-se as vezes um pouco culpado,uma sensação de usurpar o espaço alheio.” No lugar da outra, aqui no Giná­sio, isto que não, que a casa é dela”
· Primeira manhã é um romance de pouca ação e muita digressão. O fluxo de memória é intenso,muitas vezes parece desordenado,marcado por muitas interrogações. No entanto esse vai e volta ao passado serve para dar consistência psicológica aos personagens. Assim entendemos suas atitudes no presente.
· Primeira manhã foi publicado em 1968,porém sua proposta estética,enquadra-se na Segunda Geração Modernista. O texto desenvolve dentro de uma ótica neorealista,baseado na análise psicológica e na crítica social. Personagens verdadeiros em sua composição,extraídos da vida, do cotidiano da cidade,como as duas muheres preocupadas com as traições dos maridos.
· Ivaína,Braziliana
· Assim como em Belém do Grão Pará que o ruir da casa dos Alcântara, aponta o caminho da decadência familiar. Agora é a falante Abigail que narra como a casa de seu avô, o rei do bucho,o imperador das vísceras, ficou em cacos ao desabar. Em cacos também ficou a família,cada um para o seu lado e sem o conforto e as festas do ontem.
· Alfredo descobre o despertar da sexualidade do menino homem, com as duas mulheres que tentavam achar os maridos que provavelmente farreavam com as “mulheres da vida”,naquela noite.
· O jovem Alfredo sente a mágica sedutora do colo da embotada Ivaína e os braços expostos da falante e mais dada Abigail.Um jogo de sedução,com direito a roçada de braço,olhares,toque nas mãos,o fechar dos colchetes do vestido de Abigail. Tudo isso envolto no mistério da noite,locais ermos e perigosos que passaram,frustrações com os maridos,muita imaginação do rapaz.”Duas senhoras lhe dão esta primeira vez de se portar como cavalheiro e nelas, ao mesmo tempo assim devagarinho, ir descobrindo, adivinhando o que ainda não via nas outras. Não, não é mais a Libânia nem Odaléa nem Andreza. Nem Esméia, negra quanto donzela alva de jasmins.”
· “murmurou d. Abigail cruzando os braços nus, sem dizer mais nada. À frente de Alfredo, parou, pediu-lhe, baixo: quer me prender esse colchete aqui nas costas, não lhe fazendo de meu criado? mas a entender que isso era só para cochichar-lhe: Aquela lá na frente vai que vai escumando,
· As questões de terra tanto no Marajó como em Belém. Na capital a familia Lobo parecia ser quase dona da cidade.No Marajó a briga entreo coronel Braulino e a família Teixeira.
· A crítica a Justiça,que só os poderosos serve. A crítica aos advogados através do doutor Gurgel,que a anos sangra o bolso do coronel Braulino com essa “questã” como pronunciava o coronel sua disputa na Justiça pela demarcação de suas terras.
· A ironia da vida “o Delabençoe, que abençoava tudo quanto fosse menino, moça e rapaz em Cachoeira, delabençoando a filha dele.”
Sincretismo religioso de d.Abigail “E alto aos santos pedia que salvassem o marido, nem um risco as duas corressem, abençoassem o caminho delas, em tão tamanha noite, e prometia uma cabeça de cera no Carro dos Milagres.” “Foi então que ouviu o tambor, na Pedreira, batiam babaçuê, d. Abigail cantarolou:
Mariana vem faceira
Ajurema...
Ajurema...
- Frequenta, d. Abigail?
- Então não fui uma noite?
- E hoje?
- Antes fosse, meu inocente, era mas acabou-se.
E d. Abigail se virou para a prima:
- E tu, Ivaína, queres te consultar no batuque do Raimundo Silva? Quem sabe o caruana não nos diz onde? O tambor não chama?”
· Crítica social” Os grandes, lei, justiça, direito, tudo do lado deles? Um dos Lobões não me sai lá da França, o outro não me sai de dentro das barraquinhas, varando até ver gente naquela posição pelos fundos do quintal nas privadinhas tapadas de folhas ou pelos banheiros devassados,
(...)
“Eles são uns bem altos, trajados de branco, falam línguas estrangeiras, e quando o vapor inglês vem da Inglaterra vão beber com o comandante. Muitos dados com o Arcebispo. Vitrais, mosaicos, na Basílica, deles, tem em quantidade. Um-um que é até bem gerado, que é, é, vi de perto) cheirando a charuto, a tão bom tratamento, a esse bom cheiro de senhores dons. Porém... Porém... eles e esta vala algum parentesco que tem, eu juro.”
  


( material organizado pelo Prof. Gil Mattos - apoiado em texto do Prof. Anderson Luiz )

Nenhum comentário:

Postar um comentário