A obra de Dalcídio Jurandir, esse escritor quase desconhecido do grande público,
compõe-se de onze romances, entre os quais dez são de ambientação amazônica. Desses dez romances, que formam a chamada “Saga do Extremo Norte”, o personagem Alfredo é uma espécie de fio condutor, com seu percurso inquieto pela cidade e pelo interior do Pará, desvelando, especialmente, o complexo espaço urbano de Belém, além de participar ou acompanhar os dramas de vários outros personagens que cruzam seu caminho.
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( material organizado pelo Prof. Gil Mattos - apoiado em texto do Prof. Anderson Luiz )
CARACTERÍSTICAS DE DALCÍDIO JURANDIR EM “PRIMEIRA MANHÔ
1- Romance enquadrado na terceira geração modernista;
2- Sintetiza a terra e o homem da Amazônia, universaliza a cultura amazônica;
3- Mostra o falar regional, caboclo;
4- Dá relevância às crendices do povo amazônico (simpatias, benzedeiras, festas, folclore, causos etc.);
5- Abusa de rememorações e digressões (desvio de rumo ou de assunto, evasiva);
6- Utiliza recursos poéticos na sua prosa (rimas, aliterações, metáforas, antíteses, pleonasmos etc.):
Ex.: Pensar que pediu perdão? (aliteração)
O Coronel a língua engoliu (hipérbato)
7- Seus personagens crescem na narrativa em densidade psicológica;
8- Dificulta ao leitor o acompanhamento do foco narrativo, pois passa da voz de um narrador externo para a voz interna da personagem, originando daí a quebra na temporalidade e no espaço da narrativa;
9- Apropria-se da tradição literária amazônica, usando o texto Voluntário;
10- O enredo deve localizar-se entre 1926, aproximadamente;
11- Mostra diversas temáticas: a descoberta da sexualidade, a adversa realidade escolar (sala de aula como aprisionamento de pessoas, como peixes em “aquário de gelo”), a vida de aparências, a infidelidade amorosa etc.;
12- Enredo quase todo desprovido de ação (as personagens mais pensam que agem);
13- Romance-rito, rito de passagem, romance-grito dos excluídos;
ROMANCE “PRIMEIRA MANHÔ
(DALCÍDIO JURANDIR)
Mais um livro do Ciclo do Extremo Norte, traz de volta Alfredo, agora no ginásio. Tal como Belém do Grão-Pará, tem como pano de fundo uma Belém decadente e nostálgica dos tempos Belle èpoque. O amadurecimento de Alfredo, a percepção das injustiças e contradições sociais, o choque com a realidade educacional, muito distante daquela que sonhava ainda garoto em Cachoeira, as culpas que carrega se misturam à crônica da família Boaventura. Alfredo, o personagem central vive a sua primeira manhã de Ginásio (quinta série), esperada, tão cobiçada, com acontecimentos e impressões que lhe ferem profundamente a adolescência. Alfredo se encontra com novos personagens, mora noutra casa e com outra gente, cujos problemas agravam os do estudante sempre inquieto e ávido de aprender o mundo. Numa sucessão de quadros e cenas, o romancista nos apresenta a d. Santa (velha parteira) e suas netas, a D. Dudu, a D. Brasiliana (moura do contrabando e íntima da Alfândega e Foro), os Boaventuras, dos quais se destaca Luciana. A caminhada de Alfredo em companhia de duas senhoras numa noite pelo subúrbio, a conversação entre Alfredo e Ludica – um longo diálogo de adolescentes – o encontro com os professores no Ginásio, completam este volume.
O rapaz
Alfredo tem dezesseis anos,morador da José Pio, no bairro do Telégrafo.Foi
abrigado na casa em que o coronel Braulino Boaventura construiu em Belém.O
coronel é morador de Cachoeira,no Marajó,proprietário da fazenda Camamono e
Intendente daquele municíipio.Marido da cruel Jovita e pai da invejosa Graziela
e da moça que deu o “mau passo” Luciana. São responsáveis pela casa em Belém,a
dona Santa,mulher pobre,parteira de profisssão,irmã do coronel.Dona
Dudu,costureira e filha de dona Santa e sobrinha do coronel Braulino.Alfredo é
filho da negra dona Amélia,que tem uma queda pelo álccol e do pai letrado e
branco major Alberto,que auxilia o coronel na administração da Intendência em
Cachoeira.
O livro narra
o primeiro dia de aula de Alfredo no ginasial.O fim da narrativa mostra Alfredo
três dias depois voltando a escola e finda com ele ao término da
aula,questionando que seria essa aula de hoje, a primeira aula de fato? E não a
do primeiro dia. Não contaria o desastre do primeiro dia, a primeira manhã no
Liceu? Já na rua interroga a si mesmo, voltaria para a José Pio para contar a
primeira aula de “vera”,isto é, de verdade,ou “Sigo sem rumo ou vou na Ponte do Galo?” .
Voltamos ao início da narrativa. Assim começa o
romance Primeira Manhã. Alfredo segue para sua primeira manhã no colégio.Vai a
pé pela São João,cruza o Igarapé das Almas,Igreja de Santana,espia a
missa,dobra-se perante a imagem do santo porteiro,o São Pedro,porém não beija o
pé da imagem,pede ao santo que lhe abra as portas do colégio e da vida em
Belém.Dobra na São Mateus e chega ao Largo do Quartel.Está atrasado,os alunos
já entraram.No caminho pensava na história que nos oito dias em que ficou em
casa sem ir a escola,pois não tinha uniforme e nem material,ouvira a narrativa
pela voz da parteira dona Santa. Ela contou a triste sina da sobrinha
Luciana,filha do coronel Braulino,que fora pedida em casamento pelo pastor
Severino,lá em cachoeira. A mãe dona Jovita negou o pedido. O homem ficou revoltado
e deu para rasgar páginas da Bíblia pelas águas da região.Luciana tinha o sonho
de estudar o ginasial em Belém.No entanto sua mãe lhe pegou em pleno”mau
passo”. Jovita lhe aplicou uma violenta surra,com direito a banho de sal no
final. Ficou presa no cômodo das selas dos cavalos.Um raio matou dezesseis
porcos e danificou parte do quarto-prisão.Ela fugiu. Dona Santa trouxe para
Belém a desabençoada,porém a moça desapareceu sem deixar rastro.
No caminho para o colégio Alfredo pensa na jovem
Luciana,na casa da José Pio que fora construída para a jovem estudar em
Belém,”porém o mau passo”, a fez ser renegada pela família.
Atrasado
no horário, atrasado oito dias do início das aulas e atrasado na série,pois
tinha dezesseis anos e iniciaria no primeiro ano ginasial,o correspondente a
quinta série atual. Entra na sala e vai para o fundo da sala.Aula de
química.Ele começa a pensar em muitas coisas(digressões), pouco no estudo
ministrado. No final da aula é cercado pelos alunos da terceira série e na
sequência foi expulso da sala e entregue a inspetora que lhe chamou
atenção,pelo erro, pois assistira aula na turma do terceiro ano.
Já na turma do primeiro ano, Alfredo era bem
maior que o restante dos alunos. Toca a campa, desce para o pátio pensando em
fazer as tão imaginadas novas amizades.No entanto, recebeu o trote por ser
calouro. Foge para fora do colégio.Sujo,rasgado e humilhado.O dinheiro do bonde
que a pobre dona Santa lhe deu ,foi roubado. De volta para José Pio, mergulha
em um diversificado fluxo de memória,enquanto caminhava,lembra dos quinze
anos,sem dinheiro em pleno aniversário, lembra do Professor Benício, o
professor moquém, do tio Sebastião envolvido com os revoltosos do Guamá, da
doença de sua mãe dona Amélia,Andreza,Eunice e a primeira carta de amor de
Alfredo que foi rasgada,Lúdica e o quase alguma coisa...
Já em casa, na José Pio, Dona Dudu costura a roupa de Alfredo,depois lavou o uniforme do
menino.Ela lembra da prima Graziela,irmã de Luciana que não deixou o pai vender
a casa da José Pio. A praga que Luciana jogou na sua irmã, a moça amanheceu
finada.Quando Luciana deu o mau passo,sua mãe lhe queria marcar com o ferro do
gado, o pai,o coronel que não deixou.Dona Dudu é filha da parteira,prima de
Luciana e de Graziela.Dona Dudu também fala das órfãos que avô a parteira
d.Santa trata com regalias.Alfredo pensou em abandonar o almoço que não lhe
agradara,porém d.Dudu apareceu com a roupa e a farda limpa. Duas mulheres o
chamam próximo ao matagal.São duas senhoras, ambas são primas, moradoras da
José Pio. Elas pedem a companhia de Alfredo,pois principia a noite e desejavam
encontrar os seus maridos.No entano durante grande parte do percurso o jovem
desconhece o motivo daquela caminhada. Dona Abgail e falante,já a prima Ivaína
é calada.Abgail lembra que a sua família já fora proprietária daquele terreno
em que Alfredo estava morando.O seu avô era o rei das tripas. Viviam bem.Festas
e comida farta com o dinheiro das vísceras. O avô tinha sentimentos de possível
filha, ou desejo sexual pela empregada Deolinda. Os três vão atravessando os
matagais, tudo escuro. Alfredo fica curioso para saber objetivo daquela
caminhada. No entanto parece descobrir novas sensações, admirando o colo da
desconfiada dona Ivaína e os braços de dona Abgail,a descoberta de novas
sensações,sexualidade em nova etapa da vida,adolescência. Bairro da Pedreira,
do Acampamento,promessa na igreja, terreiro do pai Raimundo e de repente as
duas seguem pelo mato sem ao menos agradecer ao jovem Alfredo,por tão longa
caminhada. Abgail atrás do marido Fernando e Ivaína atrás do touro, o marido
que a estrupou na noite de núpcias. Ao usar a chave para abrir a porta,lembrou
que a chave fora feita para Luciana. Depois do coronel que tinha a questão de
terras para ser resolvida.Braziliana era uma mulata de um metro e
oitenta,rodada,arisca na arte de envolver os homens. Mulher queaprontou muito
na vida,que já fora amante do ex-governador,compadre do coronel Braulino. O
coronel não lhe tinha em boa estima,porém ficou balançado quando ela ofereceu o
número do telefone da taberna do seu Antonico,local que estava abrigada,mais
precisamente em uma estreita porta lateral do estabelecimento comercial.
Braziliana também criticou o poder das famílias dos Lobos,que segundo
documentos, herdara da época das sesmarias,grande parte da cidade de Belém.
Alfredo a
pedido do coronel vai a taberna do seu Antonico telefonar para o advogado
doutor Gurgel.Braziliana diz ao Alfredo que estava mais do que na hora do
coronel ficar viúvo.Desejava ser dona das cabeças de bois do coronel.Acabaria
com a farra do advogado Gurgel que arrasta o caso das demarcações da terra
contra os Texeiras,somente para sangrar o bolso do coronel.No entanto admirava
o doutor por ter tirado sua esposa do cabaré Cristal,assim com coragem desfila
pelos salões da sociedade com a dama,que já fora prostituta. O coronel diz a
sua irmã, a velha parteira Santa,que está na hora de arrumar ocupação para as
netas que já saíram do orfanato.Dona Dudu lembra que a mãe foi rigorosa na
criação das filhas,sendo bastante diferente na criação das netas. Alfredo
percebe o coronel com uma “teteia” na João Alfredo. As netas aparecem em
casa.Ana foge para o rumo da rua,Alfredo vai buscá-la e a entrega a avó.Ela
pega o vestido rosa e foge novamente.Dalila pede dinheiro a avó para comprar
sabonete.Braziliana com chapeu e leque vai ao fisco,tentar remover as multas do
desonesto Antonico.
Depois de
três dias Alfredo regressa ao colégio.Assiste todas as aulas do
dia.Matemática,Latim,Francês,Geografia.
Personagens
Alfredo- Rapaz de dezesseis anos,nosso protagonista.O enredo desenvolve-se a
partir da narração,principalmente, do seu primeiro dia no novo colégio.O
retorno ao colégio três dias depois. Era ginasiano,primeiro ano.Seu fluxo de
memória é intenso.Lembra de Cachoeira e Moaná,seus pobres amigos que lá
ficaram,que não teriam acesso a educação ginasial. As meninas quase namoradas
,que ficou para trás nessas duas cidades. Ficara muito impressionado com a
história da jovem Luciana.A descoberta de um novo nível de sexualidade a partir
das vizinhas senhoras Abgail e Ivaína.Tinha dúvidas e as vezes sentia-se
inferiorizado no colégio, aquilo seria realmente para ele?
Coronel
Braulino Amanajás Boaventura – Coronel era dono da fazenda
Comonono,casado com a cruel Jovita. Pai de Luciana e Graziela.Tinha uma questão
de terra no fórum de Belém que já durava anos,contra a família Teixeira. Era
intendente de Cachoeira,porém era bronco,tosco para o trabalho administrativo e
deixava essa parte para o major Alberto,que trabalhava no chalé de Cachoeira. O
coronel apesar de pacato e de ter um vocabulário original ”delabeçõe” era
“camuflado” mulherengo. Construíra a casa da José Pio para a filha mais
nova,que era a preferida,o sonho da menina era fazer o ginásio em Belém.
Luciana
- A jovem filha do coronel Braulino e da Jovita,dera
“um mau passo” por isso foi severamente espancanda pela mãe. Sangrou e recebeu
um banho de sal . Ficou presa nua no quarto-prisão,quando um raio caiu e matou
de 16 porcos e quebrou parte do quarto-prisão. Ela fugiu.Depois a tia Santa,a
parteira,irmã do coronel a trouxe para Belém.Ela fugiu e desapareceu. Ela
desejava casar com o pastor Severino e sua mãe a impediu. O seu grande sonho
era estudar o ginasial em Belém.
Andreza – Amiga de Alfredo que morava em
Cachoeira,aparece apenas no plano da memória do rapaz. Ele lembrou do quase
beijo que quando eram crianças quase aconteceu.
Dona
Santa- Parteira,irmã do coronel Braulino. Foi a senhora
que narrou o drama da jovem Luciana para o adolescente Alfredo. D. Santa tinha
simpatia pela menina Luciana. Não gostava da cunhada Jovita e nem da sobrinha
Graziela. Era mãe da costureita Dudu. Tratava com desvelo as netas órfas Ana e
Dalila.O que irritava a filha Dudu.
Dona
Dudu – Costureira, filha da parteira d.Santa,sobrinha do
coronel Braulino.Era uma pessoa amarga,gostava das desgraças na famíla do
coronel.Detestava Luciana,pois afirmava que a prima desaperecida jogou um praga
na sua irmã e a irmã amanheceu morta.
Graziela
– Irmã de Luciana,segundo d.Santa era invejosa,tinha
inveja de Luciana. Queria aprender vários instrumentos, mais faltava talento,
não era inteligente.
Abigail
– Uma vizinha da José Pio. Mulher muito
falante,junto com a prima Ivaína convidaram Alfredo para fazer a companhia a
dupla,enquanto elas procuravam seus maridos.Seu avô foi o rei das vísceras no
pasado. O terreno em que o coronel construiu a casa da José Pio,foi de sua
família,os Juruemos. Procurava o marido Fernando, que estava provavelmente
aprontado em algum cabaré. Alfredo fica interessado em seus braços.( sensualidade
metonímica)
Ivaína
– A prima de Abgail,calada,séria, o povo falava na
José Pio, que o seu marido lhe estuprara na noite de núpcias e ainda a ferida
não sarara. Alfredo ficara interessado em seu colo .( sensualidade metonímica)
Braziliana
– Mulata de um metro e oitenta,já tinha sido mulher
da vida, foi amante do ex-governador, o amigo do coronel. Era contrabandista e
conhecia todo mundo no fórum e na alfândega.Morava no anexo da taberna do seu
Antonico. Torcia para o coronel ficar viúvo, para ser a dona dos bois do
coronel.
Antonico – comerciante desonesto,que roubava no peso e no preço.
Ana
e Dalila – As órfas que viveram no orfanato. Agora viviam
batendo pernas e aprontado pelas ruas. A avó dona Santa não enxergava a
realidade,idealizava as netas. Para a revolta de dona Dudu.
Jovita – Cabocla do marajó,esposa do coronel,” A Jovita? Uma tapuia dura, feita
de pau piquiá, aquele seu rosto amarrado, uma soberbia que carrega. Que se
dissesse: é branca, nem é, (...)Mas, sim... Minha cunhada? Mansa na parecença,
danada no seu oculto. Aquela? Analfabeta como eu, mas governando a casa como
quem sabe ler, sem altear a voz, sem se mexer no assento. Da feita que a
pessoa, perante ela, praticou uma falta, assim-assim que seja, pode contar,
perdão não espere. É crua, soturna, enroscada. Não espere graça. Por outra
parte, a filha atrás não fica. Nos olhos.” Ela surrou a filha Luciana,sem
piedade,queria marcar a menina com o ferro quente de marcar o gado.
Dona
Amélia - A negra dona Amélia, mãe de Alfredo que sempre
sonhou vê o filho Alfredo doutor. Fazia esforço para manter o filho estudando
na capital. Não era casada com o branco major Alberto, o pai de Alfredo.
Major
Alberto – Pai de Alfredo,era advogado,porém pouco
advogava,quando o fazia, geralmente não cobrava honorários. Morava no chalé em
Cachoeira. O coronel era o indendente,porém quem resolvia tudo na intendência
era o major Alberto.Era culto e tinha biblioteca em sua casa.
Celeste – Parente de d.Amélia,que falou para dona Dudu,que dona Amélia ficara
lhe devendo da época em que Alfredo morou em sua casa, algum tempo atrás.Fato
ocorrido no livro anterior,”Passagem dos Inocentes”
Severino- Pastor Severino que pediu em casamento Luciana,diante da negativa de
dona Jovita,teria ficado louco,rasgando páginas da Bíblia.Jogou uma praga na
família do coronel.
Professor
Benício – Aparece no campo da memória,quando Alfredo tinha
quinze anos, o procurou para ter aulas para o exame de admissão. Veterano com
quarenta anos de magistério.Falou para Alfredo que letras e números são apenas
letras e números. O difícil era a ciência do conhecimento feminino.
Doutor
Gurgel – Advogado que a anos defendia o coronel na causa
da disputa de terra,contra a família Teixeira. Segundo Brasiliana,doutor Gurgel
sangrava o bolso do coronel, com essa causa interminável. Também segundo
Brasiliana,a esposa do doutor era uma dama que frequentava os salões da
sociedade,porém fora retirada da casa Cristal, ambiente de prostituição.
Algumas
observações
1. A obra enquadra-se na Segunda Geração Modernista,geração
regionalista,ou neorrealista. Personagem no cotidiano, sem idealizações
2. Alfredo representa o alter-ego do autor Dalcídio
Jurandir. Realidade e ficção em cada frase,pelas ruas de Belém e nas memórias
do Marajó.
3. Uma Belém da periferia,Telégrafo,Pedreira,,Acampamento
que vai ao centro, o Liceu
4. O personagem Alfredo vive em um mundo cercado de
mulheres,porém limitadas pela pobreza,ausência,ou baixa escolaridade,mulheres
em torno,ou em busca de seus homens.
5. Parece que o professor Benício ao falar que
números e letras ,são apenas números e letras e que a grande ciência da
vida,estaria no mistério de entender as mulheres.Tenta apontar um caminho entre
a vida prática, real e a vida acadêmica,distante baseada em uma cultura
europeia.
Temática: Os primeiros dias do
jovem Alfredo no colegial,descobertas e frustrações em um verdadeiro ritual de
passagem do menino para o rapaz
Espaço: Ruas e bairros
principais de Belém o Liceu e a casa da José Pio. No campo da memória Cachoeira
e Muaná no Marajó
Tempo: cronológico,pois são os
quatro primeiros dias do ginasiano
Enredo Linear: O enredo é
linear,apesar de um intenso flash-backs,o rommance é lento,pois temos pouca
ação e muita digressão.
Pontos Importantes
· A escola aparece como um local que não fora feito
para ele.Sentia-se meio intruso, o menino pobre descedentes dos negros da
areinha, da tão distante Cachoeira e tão presente Cachoeira em seu fluxo de
memória. O menino da cor da água barrenta,em contraste com o confiante e
abusado loiro do quinto ano.
· Alfredo sente-se representante de todos os seus
colegas de Cachoeira,meninas e meninos que não teriam a chance de frequentar o
ginásio.Nessa dualidade entre o orgulho de representar os humildes amigos do
seu munícipio e a hostil recepção dos alunos ao ginasiano do primeiro ano
· Professores autoritários ministrando um
conhecimento livresco,sem qualquer ponto de contato com esse menino amazônico.
O professor de Geografia falava dos afluentes dos rios da Europa...
· A covardia denominada de trote,pois por falta
do uniforme faltou os primeiros oito dias de aula. Foi esculachado no pátio e
correu para frente do colégio,sendo perseguido pelos alunos” Todo o Ginásio sabendo que um tamanho caverna do primeiro ano, o calouro
da roça, covardemente fugiu do trote devido.”
· Luciana a desabençoada,que deu mau passo,que
levou uma surra de sua mãe, a insensível dona Jovita,que lhe deu tamanha surra
e lhe deixou presa, nua em pelo, no quarto que guardava as selas dos cavalos.
· Luciana fora salva pelo raio,que matou dezesseis
porcos e danificou sua prisão.Ela fugira. Tornou-se a renegada,mesmo sendo a
filha caçula,outrora já tinha sido a preferida do coronel.
· A residência da José Pio em Belém, que fora
construída para a moçinha e ela nunca conheceu. Agora o sensível e pensativo
Alfredo estava no lugar da dasabençoada Luciana. Na casa que deveria ser da
estudante Luciana.Sentia-se as vezes um pouco culpado,uma sensação de usurpar o
espaço alheio.” No lugar da outra, aqui no Ginásio, isto que não,
que a casa é dela”
· Primeira manhã é um romance de pouca ação e
muita digressão. O fluxo de memória é intenso,muitas vezes parece
desordenado,marcado por muitas interrogações. No entanto esse vai e volta ao
passado serve para dar consistência psicológica aos personagens. Assim entendemos
suas atitudes no presente.
· Primeira manhã foi publicado em 1968,porém sua
proposta estética,enquadra-se na Segunda Geração Modernista. O texto desenvolve
dentro de uma ótica neorealista,baseado na análise psicológica e na crítica
social. Personagens verdadeiros em sua composição,extraídos da vida, do
cotidiano da cidade,como as duas muheres preocupadas com as traições dos
maridos.
· Ivaína,Braziliana
· Assim como em Belém do Grão Pará que o ruir da
casa dos Alcântara, aponta o caminho da decadência familiar. Agora é a falante
Abigail que narra como a casa de seu avô, o rei do bucho,o imperador das
vísceras, ficou em cacos ao desabar. Em cacos também ficou a família,cada um
para o seu lado e sem o conforto e as festas do ontem.
· Alfredo descobre o despertar da sexualidade do
menino homem, com as duas mulheres que tentavam achar os maridos que
provavelmente farreavam com as “mulheres da vida”,naquela noite.
· O jovem Alfredo sente a mágica sedutora do colo
da embotada Ivaína e os braços expostos da falante e mais dada Abigail.Um jogo
de sedução,com direito a roçada de braço,olhares,toque nas mãos,o fechar dos
colchetes do vestido de Abigail. Tudo isso envolto no mistério da noite,locais
ermos e perigosos que passaram,frustrações com os maridos,muita imaginação do
rapaz.”Duas senhoras lhe dão esta primeira vez de se portar
como cavalheiro e nelas, ao mesmo tempo assim devagarinho, ir descobrindo,
adivinhando o que ainda não via nas outras. Não, não é mais a Libânia nem
Odaléa nem Andreza. Nem Esméia, negra quanto donzela alva de jasmins.”
· “murmurou d.
Abigail cruzando os braços nus, sem dizer mais nada. À frente de Alfredo,
parou, pediu-lhe, baixo: quer me prender esse colchete aqui nas costas, não lhe
fazendo de meu criado? mas a entender que isso era só para cochichar-lhe:
Aquela lá na frente vai que vai escumando,
· As questões de terra tanto no Marajó como em
Belém. Na capital a familia Lobo parecia ser quase dona da cidade.No Marajó a
briga entreo coronel Braulino e a família Teixeira.
· A crítica a Justiça,que só os poderosos serve.
A crítica aos advogados através do doutor Gurgel,que a anos sangra o bolso do
coronel Braulino com essa “questã” como pronunciava o coronel sua disputa na
Justiça pela demarcação de suas terras.
· A ironia da vida “o Delabençoe, que abençoava tudo quanto fosse menino, moça e rapaz em
Cachoeira, delabençoando a filha dele.”
Sincretismo religioso de d.Abigail “E alto aos
santos pedia que salvassem o marido, nem um risco as duas corressem,
abençoassem o caminho delas, em tão tamanha noite, e prometia uma cabeça de
cera no Carro dos Milagres.” “Foi então que ouviu o tambor, na Pedreira, batiam
babaçuê, d. Abigail cantarolou:
Mariana vem faceira
Ajurema...
Ajurema...
- Frequenta, d. Abigail?
- Então não fui uma noite?
- E hoje?
- Antes fosse, meu inocente, era mas acabou-se.
E d. Abigail se virou para a prima:
- E tu, Ivaína, queres te consultar no batuque do
Raimundo Silva? Quem sabe o caruana não nos diz onde? O tambor não chama?”
· Crítica social” Os grandes, lei, justiça, direito, tudo do lado deles? Um dos Lobões não
me sai lá da França, o outro não me sai de dentro das barraquinhas, varando até
ver gente naquela posição pelos fundos do quintal nas privadinhas tapadas de
folhas ou pelos banheiros devassados,
(...)
“Eles são uns bem altos, trajados de branco, falam
línguas estrangeiras, e quando o vapor inglês vem da Inglaterra vão beber com o
comandante. Muitos dados com o Arcebispo. Vitrais, mosaicos, na Basílica,
deles, tem em quantidade. Um-um que é até bem gerado, que é, é, vi de perto)
cheirando a charuto, a tão bom tratamento, a esse bom cheiro de senhores dons.
Porém... Porém... eles e esta vala algum parentesco que tem, eu juro.”
( material organizado pelo Prof. Gil Mattos - apoiado em texto do Prof. Anderson Luiz )
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