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quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A VIAGEM DO ELEFANTE = Saramago

A Viagem do Elefante é um romance de 2008 do escritor português, Nobel de Literatura de 1998, José Saramago. A Viagem do Elefante retrata a ida de um elefante até a Áustria, mandado pelo Rei D. João III, onde será o presente de casamento do arquiduque Maximiliano da Áustria.
“A Viagem do Elefante” ambienta-se em meados do século XVI, e conta a história do elefante Solimão (ou Salomão, como é chamado depois de passar à propriedade austríaca) e seu cornaca Subhro (ou Fritz, cujo nome também é modificado, pois, enquanto tratador e guia, acompanha o elefante e os desígnios aos quais este é submetido). Solimão era propriedade do império português, e vivia um tanto quanto esquecido em Lisboa, sob os cuidados de Subhro. De pouca ou nenhuma serventia aos interesses do rei D. João III, o elefante é presenteado ao arquiduque austríaco Maximiliano II, recém casado com a filha do imperador Carlos V, que aceita o presente e imediatamente procede a mudança dos nomes de Solimão e Subhro para Salomão e Fritz. A partir de então, o narrador passará a contar a história da longa viagem empreendida por Salomão e Fritz, primeiramente de Portugal a Espanha, onde se detinha a comitiva de Maximiliano II, e de Espanha a Áustria, incluindo-se aí uma perigosa viagem marítima pelo Mediterrâneo e uma quase suicida travessia dos Alpes.
 A história serve apenas como pano de fundo para que José Saramago exercite seu mais fino humor e sua mordaz ironia à burocracia de Estado e à corrupção intrínseca dos indivíduos. Assim, não foi casual a escolha de um elefante como personagem central do livro. É Solimão (ou Salomão) que move a burocracia de um Estado inoperante, muito mais preocupado com sua perpetuação e imagem, do que com sua eficiência junto às necessidades de seu povo, e é em torno e em função dele que se destacará toda uma comitiva e para qual se contratarão funcionários que possam suprir suas necessidades particulares e tornar possível e segura sua viagem.


SOLIMÃO E SUBHRO – O QUE REPRESENTAM?

Solimão é desta feita, o próprio Estado, cuja ineficácia burocrática José Saramago discutiu em dois outros livros. Subhro (ou Fritz), o cornaca, por sua vez, constitui-se como personagem complexo: indiano de origem, emigrou para Portugal acompanhando Solimão, a quem trata, treina e guia. Apesar de servir a seu soberano, seja este o rei português ou o arquiduque austríaco, é dado a arroubos de autonomia, e chega a contestar e ironizar seus superiores hierárquicos. Sabendo-se fundamental aos interesses do seu governo, considerando ser o único a conhecer as manhas e artimanhas de Solimão, Subhro emite suas opiniões próprias e, em nome do bem-estar do elefante (e, consecutivamente, dos interesses de Estado), chega a impor condições para a viagem. Entretanto, como todo ser humano, deixa-se levar também por seus interesses próprios e, sempre que pode, usa do Estado (no caso, Solimão) para obter lucros e
benefícios pessoais, como no episódio em que passa a vender pelos do animal a uma população crédula depois de
 ter usado o paquiderme para forjar um milagre – uma clara referência ao momento em que a história é ambientada, quando na Europa eclodiram os movimentos da Reforma Protestante e da Contra-Reforma Católica.
O prazer em "A Viagem do Elefante" está nos encontros interrogadores das suas personagens. Subhro, um estrangeiro em Portugal, e ainda mais um estrangeiro entre os austríacos, divide-se entre a deferência — ele é um pequeno cornaca, no fim de contas — e a descoberta e a defesa da sua própria realidade. A sua e a do seu elefante. Quando o arrogante Maximiliano exige que reduza o costumeiro período de descanso de Salomão, dizendo que já não estava na Índia, ele recusa. “Se vossa alteza conhecesse os elefantes como eu tenho a pretensão de conhecer, saberia que para um elefante indiano, dos africanos não falo, não são da minha competência, qualquer lugar em que se encontre é índia.”
No seu adeus a Valladolid, falando com o comandante do destacamento português — após uma desconfiança inicial tinham-se tornado grandes amigos — compara-se à sua carga. “[...] em um elefante há dois elefantes, um que aprende o que se lhe ensina e outro que persistirá em ignorar tudo.” E continua: “Descobri que sou tal qual o elefante, uma parte de mim aprende, a outra ignora o que a outra parte aprendeu, e tanto mais vai ignorando quanto mais tempo vai vivendo.”
Ao serviço de reis e imperadores, Salomão e o seu Subhro, mesmo quando obedecem, afirmam os seus eu individuais — as suas almas, alguém pode dizer, se tal não ofender o devoto ateísmo do escritor. A mais divertida e cristalina cena de A Viagem do Elefante tem Subhro a ensinar Salomão a ajoelhar-se diante do santuário de Santo António em Pádua. E fá-lo sob a ameaça das autoridades religiosas locais, que acham conveniente encenar um “milagre.” Subhro estaria preocupado com a possível falha na atuação de Salomão. Não se preocupe, diz-lhe um padre: Os milagres que não acontecem são os “mais saborosos”. “[...] além disso, aliviamos de maiores responsabilidades os nossos santos.”
Uma linha de desafio percorre todas as obras de Saramago. Ele foi um Comunista e continuou como tal; mas nos seus romances não existe qualquer pista das algemas que o comunismo no poder tentou impor aos seus artistas. Em vez disso, há uma veia que rejeita todas as imposições, mesmo as da causa sobre o efeito. Assim, sentimos, lendo-o, que a lei da gravidade está a ser subvertida pelo puxão de outros corpos astrais, os que Saramago inventou e enviou para a nossa órbita.

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A viagem do elefante (Por capítulos)


                             A primeira parte mostra que o primeiro passo da viagem de Salomão foi dada na alcova do Rei e Rainha de Portugal e Algarves ao decidirem livrar-se, ou melhor, presentear com um elefante asiático (que já haviam recebido de presente dois anos antes e não apresentava utilidade nenhuma a não ser gastos) o Arquiduque da Áustria, Emiliano que estava em Valladolid na Espanha como forma de da um presente mais exuberante por seu casamento e também livrar-se do peso (e que peso) financeiro do elefante e vai até a visita que o Rei faz ao curral do elefante, que fica em Belém, afim de verificar a situação em que se encontra o presente (sujo e abandonado)
 ...mais pequenos que os seus parentes africanos, adivinha-se no entanto, por baixo da camada de sujidade que o cobre, a boa figura com que havia sido contemplado pela natureza.
A segunda parte traz a resposta do Arquiduque e acelera o processo de entrega do presente, junto com seu tratador – o Cornaca, Subhro:
Três dias depois, pela tardinha, o estribeiro-mor, a frente da sua escolta, bastante menos luzida agora graças à sujeira dos caminhos e aos inevitáveis e malcheirosos suores, tanto os equinos como os humanos, desmontou à porta do palácio.
A Terceira parte inicia a viagem propriamente dita, com toda a comitiva: o Cornaca, os dois ajudantes, os homens do abastecimento, o carro de bois com água, o pelotão de cavalaria que faria a segurança, um carro da intendência puxado por mulas. Devido a diferença de passos a viajem avançava vagarosa e todos tinham que esperar pelos bois e pelos longos banhos de Salomão.
Nessa longa parte, estabelece-se a relação entre o cornaca, Subhro e o Comandante, vê-se as ideias do tratador que devem ser ditas co muita diplomacia para não ferir a autoridade do militar.

O cornaca respirou fundo e disse com a voz rouca de emoção, Se vossa senhoria mo permite, tive uma ideia, se já a tiveste não precisa da minha permissão, Vossa senhoria tem razão, mas eu, o português, falo-o mal, Diz lá então qual é a ideia, A nossa dificuldade esta nos bois, sim, ainda não apareceram, O que quero dizer a vossa senhoria é que o problema continuará mesmo depois de terem aparecido...
A ideia para acelerar a viagem era conseguir mais uma junta de bois, solicitada de algum proprietário em uma das “aldeias” do caminho. Fato que é concretizado na Quarta parte na aldeia de propriedade de um Conde: 
A aldeia era uma aldeia como já não se veem nos dias de hoje, se estivéssemos no inverno seria como uma pocilga, escorrendo água e salpicando lama por todos os lados, agora sugere outra coisa...
A longa Quinta parte começa com um temporal inesperado, já que é verão, agosto, que faz o comandante procurar abrigo em mais aldeias, em uma delas, nas fogueiras que antecedem a dormida discute-se religião, hinduísmo versus catolicismo, é contada a historia do Deus com cabeça de elefante – Ganesha:
“Ganesha é filho de Siva e de Parvati, também chamada Durga ou Kali, a deusa dos cem braços(...) há que dizer que, como aconteceu com a vossa virgem, que ganesa foi gerado por sua mãe, Parvati, sem intervenção do marido, Siva, o que se explica pelo fato de que este, sendo eterno, não sentia nenhuma necessidade de ter filhos. Um dia. Tendo Parvati decidido tomar banho, sucedeu que não havia guardas por ali a fim de a protegerem de alguém que quisesse entrar na sala. Então ela criou um ídolo com forma de rapazinho (...) parvarti ordenou a ganesa que não permitisse a entrada de ninguém (...) Encontraram um elefante moribundo que dormia desta maneira e após a sua morte cortaram-lhe a cabeça (...)  a qual foi colocada no corpo de ganesha.
Os aldeãos ao redor da fogueira  acabaram interpretando que o elefante era um Deus e foram informar o padre local, que no amanhecer do outro dia promoveu um exorcismo em Salomão que de mau humor, ao acordar, escoiceia o padre que acaba achando aquilo uma punição dos céus. O ultimo fato dessa parte e fantástico, um nevoeiro pesado toma conta do local, um dos ajudantes fica perdido e iria morrer de frio ou atacado por lobos senão fosse um barulho (barrito) de Salomão, barrito que não aconteceu e ajudante que simplesmente desaparece sem explicação.
Fez "plof" e sumiu-se. Há onomatopeias providencias. Imagina-se que tínhamos de escrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas, Plof.
Perceba que o processo narrativo também é explicado, ou seja, trata-se de momentos metanarrativos, já existentes desde Machado e suas conversas com o leitor.
A SEXTA parte inicia com as saudades que o comandante tem de sua família, saudades estas que servem de motivo para o narrador colocar entre as lembranças do personagem militar as aventuras literárias do Amadis de Gaula, uma novela de cavalaria, intertextualidade clara na obra de Saramago. O capitulo termina com a referencia as sutis brigas entre portugueses e espanhóis que faz com que o trajeto de viagem não passe por Castela e sim vá até Castelo Rodrigo, onde, segundo carta do secretario do arquiduque haveria uma força militar espanhola ou austríaca para recebê-los, noticia que mexeu com os brios do capitão.
Temos que chegar a castelo Rodrigo antes dos espanhóis, devemos consegui-lo, eles não estão prevenidos, nós, sim, E se não o conseguimos, atreveu-se o sargento a pergunta, Consegui-lo-emos, de todos os modos quem chegar primeiro, espera.
A SÉTIMA parte mostra a chegada da caravana lusa, antes dos espanhóis e/ou dos austríacos em Castelo Rodrigo, espreitadas pelos lobos, antevendo confrontações e a bela “parábola” da vaca que aprendeu a lutar pelo seu filho contra os lobos e não mas se domesticou, mas que ao final è desmentida.
Creio que a vaca realmente se perdeu, que foi atacada por um lobo, que lutou com ele e obrigou a fugir talvez mal ferido, e depois se deixou ficar por ali pastando e dando de mamar ao vitelo, até ser encontrada(...)
A OITAVA e NONA parte mostra-se a expectativa dos portugueses pela chegada da tropa “inimiga”, que e austríaca e não espanhola, quando chega quer levar imediatamente o “presente”, o comandante lusitano só permite se sua tropa puder ir junto até Valladolid, cumprir a ordem do Rei e entregar pessoalmente o presente.
A DÉCIMA parte mostra a viagem conjunta das duas tropas, os pequenos entreveros, o traje novo colorido de Subhro e a conclusão dos soldados austríacos que mostra que o capitão deles, queria ter levado Salomão sem os portugueses para ganhar todos os louros da vitória.
  A DÉCIMA PRIMEIRA mostra a chegada a Valladolid totalmente enfeitada. Saramago faz um apanhado das figuras históricas presentes na “época” de Salomão. O arquiduque, sua esposa Maria. O imperador Carlos V. Um dos episódios mais engraçados nessa parte é a conversa entre o cornaca Subhro e o Arquiduque Maximiliano que acaba ordenando a troca de nome cornaca por se difícil de pronunciar e diz que a partir daí ele chamara Fritz e Salomão, Solimão.

Depois de entrega ao arquiduque, das despedidas do comandante e dos soldados lusos, das trocas de nomes. A Viagem de Solimão continua por territórios espanhóis e italianos. Antes de chegar a Viena, destino final, ocorre o primeiro “milagre” do elefante que se ajoelha (obviamente ensinado pelo Cornaca) diante da catedral de Pádua – Saramago coloca ai uma das estratégias da igreja católica para recuperar fieis, já que o milagre foi fabricado após. Salomão descansa e se recupera em Bressanone “Agora, solimão recuperou as forças, esta gordo Formoso, logo ao cabo de uma semana pele  flácida e enrugada já tinha deixado de lhe fazer pregas como um capote”. “O ultimo obstáculo era o desfiladeiro de Brenner.
Depois de enfrentar o desfiladeiro, o frio absurdo e os perigos da neve, chega-se as margens do rio Inn e a partir de tal ponto a viagem se fará em uma navegação fluvial. Desde a chegada a Innsbruck, no dia de Reis, nas cidades pelas quais passavam a festa os acompanhava, o elefante ou o arquiduque eram aplaudidos. Solimão virou instrumento político dos mais eficientes.
Ao chegar a Viena, Salomão faz mais um “milagre” salva uma menina de cinco anos que desprendeu-se dos pais de ser pisoteada por ele mesmo, pega-a com a tromba e a devolve aos pais, ou pelo menos assim disse.
A última parte se inicia afirmando. “O elefante morreu quase dois anos depois, outra vez inverno no ultimo mês de mil quinhentos e cinquenta e três. A causa da morte não chegou a ser conhecida..”. “foi esfolado, cortaram suas patas dianteiras que após a higienização foram servir de recipiente para depositar bengalas e afins na porta do palácio.
Subhro recebeu um dinheiro generoso do arquiduque, comprou uma mula e um burro e prometeu levar a Lisboa, mas não se teve mais notícias dele.
O arquiduque comunicou a perda aos Reis de Portugal, o status de herói do elefante e a rainha Catarina, a mesma rainha que concebeu a ideia de livrar-se de Salomão, ao saber da morte “correu a encerrar-se na sua câmara, onde chorou todo o resto do dia”.                        



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